quarta-feira, 25 de julho de 2012

A AMIZADE NO CASAMENTO

Muito se fala atualmente que os casais casados precisam desenvolver uma amizade profunda entre os dois. Alguns chegam a dizer que o casamento deveria ocorrer entre os melhores amigos. Ambos deveriam ter uma relação aberta e de total cumplicidade. 

Historicamente, nem sempre foi assim. Esse foi um requisito que demonstra a transição dos casamentos ditos tradicionais – nos quais marido e mulher sabiam claramente seus papéis e o que dele se espera, para os casamentos mais modernos, e que são comuns hoje.

Nos casamentos de tempos passados, a esposa não devia ser considerada, e normalmente não era, uma pessoa com os mesmos direitos de seus maridos. Normalmente ela era mais nova que ele, muitas vezes sem qualquer educação, e totalmente inexperiente quanto ao mundo além do lar de seus pais. Ela era criada para ser esposa, e uma que mais servisse às necessidades do marido e do lar, do que para ter outro objetivo na vida. Infelizmente, em muitos casamentos ainda hoje, percebemos essa mesma tendência. Mesmo as mulheres não sendo tão mais novas, muitos homens ainda buscam manter essa hierarquia, e por causa disso, se tornam os senhores de suas mulheres. Eles simplesmente exigem tudo o que podem da esposa, sem dar nada em troca. E, muitas mulheres, por terem sido criadas da mesma forma, ou por compreenderem errado o que Deus espera delas no casamento, acabam por aceitar essa visão deturpada do marido.

Contudo, devo afirmar aqui que não é em todos os casamentos que há algum tipo de conflito por causa desse papel. Muitos casamentos que possuem essa perspectiva do papel da esposa e do marido do lar são marcados por sentimentos verdadeiros, e cuidado constante. Mas, eles não possuem a característica de mutualidade, que é necessária para que haja uma amizade. Por isso que em alguns casos, apesar de tantas pessoas falarem que necessita-se da amizade no casamento, as coisas não mudam. Eles têm dificuldade de perceberem que são iguais, que devem se tratar com respeito mútuo.

Necessidade da Amizade no Casamento. Por que precisamos da amizade? Porque vivemos em um mundo cada vez mais hostil, mais individualista. Muitas pessoas são empurradas de um lado para o outro, buscando fazer todo o possível para sobreviverem. E, se por causa da necessidade econômica, as pessoas tiverem que se mudar para morar em lugares longe de suas famílias e/ou amigos, só se resta a amizade com o cônjuge. Ninguém mais está ali para ouvir, para entender, para oferecer uma palavra de conforto, de ânimo, de esperança. O cônjuge tem a responsabilidade de ser esse suporte para seu marido/esposa. Sem essa amizade, muitas pessoas passam a vida inteira sem experimentarem o que realmente significa ter alguém para auxiliar, para fortalecer, para animar… alguém que seja realmente um(a) companheiro(a).

Veja bem, não quero dizer aqui que não houve casamentos passados entre pessoas amigas. Muitas pessoas que conheço, que vivem juntas há 40, 60, 80 anos são tão unidas, e já partilharam tantas coisas, que são mais que amigos. Mas é importante afirmar que para esses casais, a amizade não era uma questão tão importante, tão decisiva, que necessitaria tanta atenção.

Agora, uma coisa é verdade: os casais que gostam um do outro como amigos percebem que o amor no casamento é algo muito mais enriquecedor. Isso influencia aspectos como sexualidade e sensibilidade às necessidades da outra pessoa. É um elemento muito importante para o aspecto do compromisso de amor que deve permear toda a relação matrimonial.

Exigências Diferentes

Só que essa realidade de amizade no casamento, ao mudar a qualidade da relação conjugal, também apresenta exigências diferentes também. Em primeiro lugar, podemos falar do que realmente cada cônjuge entende por amizade no casamento.

Para alguns, amizade é fazer as coisas juntos. Então, o marido precisa acompanhar a mulher quando essa vai ao shopping, e ela tem que ir com ele quando ele vai jogar bola. Algumas pessoas acham que tudo tem de ser feito junto. Isso não é verdade. Claro que existem situações em que essa convivência pode ser obtida e ser muito prazerosa. Conheço um casal de amigos, cujo marido adorava pescar, e a esposa não dava tanto valor a isso. Só que, ao perceber o quanto aquilo era importante para ele, ela procurou se informar, e começou a partilhar das saídas que ele fazia de finais de semana para pescar. Hoje, para ele, a melhor companhia da pescaria é sua mulher. Sim, pode acontecer. Agora, por outro lado, se marido e mulher não se veem fazendo coisas separadas, muitos conflitos surgem. É importante que haja atividades juntas, mas também é importante que ambos tenham atividades em que possam estar distantes.

Esse é o segundo ponto que quero destacar: alguns casais se fecham tanto em si mesmos, que ambos não se tornam apenas amigos, mas ambos se tornam os únicos amigos que possuem. Aí as coisas se tornam bem mais complicadas. Em sua maioria, homens e mulheres são diferentes na maneira de conversar e de tratar dos problemas. Homens gostam de ficar calados, pensar, e se acalmarem em silêncio, depois falar o que lhes preocupa. Já as mulheres, em geral, gostam de falar, de desabafar, de colocar pra fora o que sentem. Quando ambos precisam resolver problemas, vocês já imaginaram o que pode acontecer, não é? Por terem necessidades diferentes, ambos precisam se sujeitar às necessidades do outro, ou dar um tempo e um espaço para o outro refletir. Por isso que ambos precisam ter outros amigos. Há situações e momentos nos quais quem melhor pode entender uma mulher é outra mulher. E a mesma coisa com os homens. Assim, a amizade é importante, mas não devem se tornar exclusivos, devem manter a vida social.

Agora, um cuidado especial deve ser tomando: amizades com o sexo oposto. Mesmo que não haja nenhuma intenção da parte de nenhum dos dois, amizades com pessoas do sexo oposto devem se manter em níveis superficiais. Um homem casado não deve procurar ser muito atencioso ou muito cuidadoso com os sentimentos de outra mulher que não sua esposa, pois isso pode abrir brechas para destruir a fidelidade conjugal. Coisas aparentemente sem importância podem se tornar grandes ladrões da harmonia e paz do lar. E mulheres casadas não deveriam expor suas intimidades, seus segredos, para outros homens que não seus maridos, pois a atenção que essa outra pessoa pode dar a ela, é capaz de transformar até mesmo o amor que ela tem pelo marido. Assim, homens e mulheres, se cuidem, preservem seu casamento. Façam amizades com as outras pessoas, mas cuidem muito bem dos limites da intimidade que estão dispostos a permitir que a outra pessoa tenha em sua vida.

Ser e Fazer Amigos. Um último pensamento a ser desenvolvido é a importância de o casal fazer amizade com outros casais. É na troca mútua que um pode ajudar o outro. Ter amizade com dois, três casais, pode ajudar você e seu cônjuge a enfrentar suas lutas diárias, a resolver algum problema muito complicado, a partilhar momentos de oração e preocupação mútuas, ou mesmo a ser útil para pessoas que possam precisar do conselho que vocês têm a oferecer a eles. Não deixem de fazer diferença, de serem úteis para outros casais.

E, se for possível, busquem fazer amizade com casais de quem vocês possam aprender algo para a vida a dois. Somos sempre estudantes da escola do casamento. Por isso, quanto mais você puder aprender de outros, dos erros e acertos, melhor você e seu cônjuge podem enfrentar as dificuldades que aparecem na vida de vocês.

Edson e Sueli
Ministério para as Famílias Arquidiocese de Maringá

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