Limites: Quando e como dizer não

Diante destas situações muitos pais encontram-se perdidos: O que fazer? Brigar, gritar, conversar, proibir, exigir, relevar?

Em meio a toda esta confusão, acabam depositando na escola e nos profissionais de saúde a esperança de uma solução.

O que está acontecendo então? Parece que somente conseguimos passar de um pólo para o outro. E como tudo na vida - e em educação não é diferente - nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Nem oito, nem oitenta. O ideal é justamente buscar o meio termo. É importante que todos os pais saibam que dar limites é bom, as crianças gostam e precisam.

Nesse ponto, faz-se necessário especificarmos o que estamos denominando de limites. Entendemos limite como aquilo que dá contorno, que dá forma a algo, permitindo que este se discrimine do meio.
Ao encararmos o limite dessa forma, percebemos que ele é fundamental no desenvolvimento de todo ser humano, pois é o que permite que o mesmo desenvolva uma noção clara de si mesmo na relação com o mundo, o que envolve perceber até onde se pode ir e quando começa o espaço e o direito do outro.

Essa percepção é de muito valor para as crianças, pois precisam de noções claras, seguras e, na medida do possível, constantes a respeito do mundo, das coisas, das pessoas e das possibilidades de inserção e interação. Na medida em que as crianças nada sabem a respeito do mundo, cabe aos adultos essa "apresentação" que, se realizada de forma clara, objetiva e justa oferece às crianças a sensação de cuidado, de proteção e de segurança.

O limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social - a família, a escola e a sociedade como um todo.

A criança precisa de regras: o convívio social exige isso e as regras dão a sensação de conforto e segurança. É uma tirania deixar à criança a responsabilidade de, sempre, escolher, segundo suas motivações e desejos pessoais, o que é bom para ela.

A sociedade é muito complexa, e criança precisa e quer um guia para entrar neste emaranhado de valores que é a cultura.

O valor do limite é levar a criança ao que o mundo é para que, depois, ela possa transformá-lo.

Assim, é preciso que nos desvencilhemos da idéia de que limites são imposições arbitrárias realizadas pelos adultos junto às crianças de forma vertical e autoritária.

É verdade que tal concepção é a que se encontra presente no senso comum, mas torna-se necessário diferenciá-la da concepção que aqui tentamos apresentar; isso implica em uma importante distinção entre autoridade e autoritarismo.

A importância dos limites serem dados desde a primeira infância.

Se entendermos limites como o contorno necessário ao desenvolvimento saudável das crianças, concluímos que estes devem ser apresentados desde o momento do nascimento.

Tal afirmação vai de encontro à máxima de que "a criança é que deve ditar seu próprio ritmo" que, apoiada pelas idéias de respeito, aceitação e permissividade como facilitadores do desenvolvimento psicológico, acaba por transformar os lares e as famílias em um verdadeiro caos, ditados pelo "ritmo”de um recém-nascido que só possui a referência da vida intra-uterina e que nada sabe a respeito desse outro mundo, de suas regras e de suas possibilidades de vida e convivência familiar e social.

Tais regras e possibilidades devem ser apresentadas por esses adultos e não podem ser "adivinhadas" ou construídas pela criança que acabou de nascer.

Um importante limite na primeira infância é a questão dos horários. É fundamental que as crianças tenham hora para comer, dormir e brincar. São estes primeiros limites que lhe darão condições de aceitar os próximos que certamente terão de vir.

Por outro lado, isso não significa ignorar e/ou desrespeitar as necessidades básicas das crianças em cada momento de sua vida.

Equilíbrio entre o que apresentar pronto e o que permitir ser construído é a peça chave de um desenvolvimento saudável.

À medida que o desenvolvimento é um processo e em cada momento contamos com os elementos anteriores, não podemos aguardar uma determinada idade para que limites sejam apresentados; eles precisam ser apresentados de forma progressiva, sempre respeitando as possibilidades de cada faixa etária.

Uma vez que tais crianças nunca experimentaram limitações, ou experimentaram poucas limitações em suas ações, elas costumam apresentar violentas reações aos limites que "de repente" começam a ser apresentados, sentindo-se confusas acerca das regras do viver e do conviver e, particularmente, desconfiando do amor desses adultos que de uma hora para outra resolveram ser "malvados" e intolerantes.

Infelizmente, essa é a armadilha na qual inúmeros pais encontram-se presos atualmente. Ao conceberem a idéia de limites como algo ruim, agressivo e impeditivo para seus filhos, principalmente quando eles ainda são "tão pequenos', deixam de oferecer experiências fundamentais de frustração, que servem como "treino' para inevitáveis limitações e frustrações mais amplas em momentos posteriores da vida, inclusive na idade adulta.

Assim, ao tentar estabelecer limites para uma criança de seis anos, que nunca teve limites claros e que sempre foi protegida de toda e qualquer frustração, os pais deparam-se com uma enorme dificuldade de aceitação e compreensão por parte da criança e acabam ficando cansados, confusos e raivosos, tornando toda a situação ainda mais difícil para todos os envolvidos.

Assim, a partir da primeira infância a criança precisa perceber que existem coisas que ela pode fazer e coisas que ela não pode fazer. Se cada vez que a criança apresentar determinadas atitudes, o adulto agir da mesma forma, aos poucos a tendência é que ela vá deixando de lado tal atitude, assumindo outra que lhe dê um retorno positivo.

Uma vez que a necessidade de aprovação costuma ser uma das necessidades predominantes da criança, ela progressivamente irá aceitando as limitações apresentadas em sua inserção no mundo.

Características gerais dos limites;

Os limites que fornecem o "contorno" do qual falamos são:

- horários organizadores da rotina da criança;

- oportunidades de escolha responsável de acordo com a faixa etária;

- direitos iguais para todos os filhos, guardadas as proporções de cada faixa etária;

- respeito ás diferenças individuais de cada criança;

- respeito ás necessidades do outro, seja adulto ou criança;

- valores éticos que permeiam a vida em relação à honestidade, justiça e responsabilidade.

Clareza, coerência e firmeza

É preciso que o limite seja claro, inteligível e de preferência argumentado, levando-se em conta a faixa etária da criança, de interpretações equivocadas.

Firmeza na colocação: sem hesitações e expressões não-verbais congruentes com a linguagem verbal, também são de suma importância.

Crianças pequenas não entendem que hoje podem fazer algo e amanhã não. Tampouco compreendem que a mamãe diz que aquilo não pode ser feito, mas apresenta uma expressão de satisfação, rindo ou brincando. "Às vezes", "só um pouquinho", "depende", "só se você fizer isso ou aquilo", são expressões que confundem e não oferecem "contorno".

Crianças entendem sim e não. O que pode, pode; o que não pode, não pode.

"[...] uma vez dado o limite é fundamental que ele seja mantido. Assim, é de crucial importância que não se prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se faça ameaças que não serão cumpridas."

Mantendo-o sem voltar atrás

Da mesma forma, uma vez dado o limite é fundamental que ele seja mantido. Assim, é de crucial importância que não se prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se faça ameaças que não serão cumpridas.

Quando os pais põem o limite e depois não sustentam a própria palavra, a criança fica com a sensação de que a palavra do adulto não vale nada, gerando insegurança e desconfiança e abrindo possibilidades para manipulações.

Congruência familiar: algo que todos os adultos compartilham

Se não existir coerência entre os adultos, a criança fica com a percepção de que aquilo não é tão importante, já que cada um pensa de uma forma distinta. Se a criança percebe que está ocorrendo desentendimento entre os adultos, ela pode começar a manipular a situação de forma a conseguir sempre tudo que deseja "alternando" entre os adultos de acordo com suas necessidades.

Respeito e confirmação dos sentimentos:  Limite no comportamento e não no sentimento

Os limites incidem sempre sobre o comportamento e nunca sobre os sentimentos envolvidos na situação.

Os sentimentos precisam ser experimentados, aceitos e canalizados para formas adequadas e construtivas de expressão.

Assim, podemos falar em três tempos do limite:

- apresentar o limite;

- reconhecer e validar o sentimento envolvido na situação;

- oferecer alternativas para a expressão do sentimento envolvido.

Limites dos pais

Para dar limites aos filhos, os pais também precisam ter limites. Ninguém pode dar o que não tem e o exemplo dos pais é fundamental.

Não se pode exigir algo que não se faz, pois a criança tende a percebê-lo como um castigo ou discriminação.

Isso é condição necessária para se tornar uma autoridade legitimada. Comportar-se coerentemente com as regras impostas, pois a criança precisa de exemplos encarnados dos valores pregados. Não se aplicam limites a crianças visando seu próprio interesse e/ou prazer pessoal e nem se deve usá-los como desculpa para pouca paciência ou tolerância quanto às necessidades da criança. Da mesma forma, uma vez dado o limite é fundamental que ele seja mantido.

Assim, é de crucial importância que não se prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se faça ameaças que não serão cumpridas, pois tais situações levam a criança ao descrédito em relação à palavra do adulto e abrem possibilidades para manipulações por parte da criança.

Ministério das Famílias – Grupo de Oração Raio de Luz
Coordenadores Edson e Sueli

Um comentário:

  1. Parabéns, gostei muito espero que tenham mais coisas sobre esse assunto pois no mundo de hoje está muito difícil educar nossos filhos de uma maneira cristã, valeu, a paz

    João Paulo
    rcc maringá

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